Durante
o mês de outubro os nossos olhos se voltam para Maria, a Mãe de Jesus, a Mãe da
Igreja e a nossa Mãe. O outubro é o Mês do Santo Rosário e a Festa de N. S. Aparecida.
No mês de outubro celebramos também o Mês Missionário. A partir do batismo
somos chamados a sermos evangelizadores e missionários. No próximo domingo, dia
20 de outubro de 2013, a Igreja celebra o Dia Mundial das Missões. O Santo
Padre, o Papa Francisco, publicou uma carta especial para esta ocasião. Vale a
pena ler e depois colocar em prática e mensagem do Papa. Veja a carta na íntegra:
Queridos
irmãos e irmãs,
Este
ano, a celebração do Dia Mundial das Missões tem lugar próximo da conclusão do
Ano da Fé, ocasião importante para revigorarmos a nossa amizade com o Senhor e
o nosso caminho como Igreja que anuncia, com coragem, o Evangelho. Nesta
perspectiva, gostaria de propor algumas reflexões.
1.
A fé é um dom precioso de Deus, que abre a nossa mente para O podermos conhecer
e amar. Ele quer entrar em relação conosco, para nos fazer participantes da sua
própria vida e encher plenamente a nossa vida de significado, tornando-a melhor
e mais bela. Deus nos ama! Mas a fé pede para ser acolhida, ou seja, pede a
nossa resposta pessoal, a coragem de nos confiarmos a Deus e vivermos o seu
amor, agradecidos pela sua infinita misericórdia. Trata-se de um dom que não
está reservado a poucos, mas é oferecido a todos com generosidade: todos
deveriam poder experimentar a alegria de se sentirem amados por Deus, a alegria
da salvação. E é um dom que não se pode conservar exclusivamente para si
mesmo, mas deve ser partilhado; se o quisermos conservar apenas para nós
mesmos, tornamo-nos cristãos isolados, estéreis e combalidos. O anúncio do
Evangelho é um dever que brota do próprio ser discípulo de Cristo e um
compromisso constante que anima toda a vida da Igreja. «O ardor missionário é
um sinal claro da maturidade de uma comunidade eclesial» (Bento XVI, Exort. ap.
Verbum Domini, 95). Toda a comunidade é «adulta», quando professa a fé,
celebra-a com alegria na liturgia, vive a caridade e anuncia sem cessar a
Palavra de Deus, saindo do próprio recinto para levá-la até às «periferias»,
sobretudo a quem ainda não teve a oportunidade de conhecer Cristo. A solidez da
nossa fé, a nível pessoal e comunitário, mede-se também pela capacidade de a
comunicarmos a outros, de a espalharmos, de a vivermos na caridade, de a
testemunharmos a quantos nos encontram e partilham conosco o caminho da vida.
2.
Celebrado cinquenta anos depois do início do Concílio Vaticano II, este Ano da
Fé serve de estímulo para a Igreja inteira adquirir uma renovada consciência da
sua presença no mundo contemporâneo, da sua missão entre os povos e as nações. A
missionariedade não é questão apenas de territórios geográficos, mas de povos,
culturas e indivíduos, precisamente porque os «confins» da fé não atravessam
apenas lugares e tradições humanas, mas o coração de cada homem e mulher. O
Concílio Vaticano II pôs em evidência de modo especial como seja próprio de
cada batizado e de todas as comunidades cristãs o dever missionário, o dever de
alargar os confins da fé: «Como o Povo de Deus vive em comunidades, sobretudo
diocesanas e paroquiais, e é nelas que, de certo modo, se torna visível, pertence
a estas dar também testemunho de Cristo perante as nações» (Decr. Ad gentes,
37). Por isso, cada comunidade é interpelada e convidada a assumir o mandato,
confiado por Jesus aos Apóstolos, de ser suas «testemunhas em Jerusalém, por
toda a Judeia e Samaria e até aos confins do mundo» (At 1, 8); e isso, não como
um aspecto secundário da vida cristã, mas um aspecto essencial: todos somos
enviados pelas estradas do mundo para caminhar com os irmãos, professando e
testemunhando a nossa fé em Cristo e fazendo-nos arautos do seu Evangelho. Convido
os bispos, os presbíteros, os conselhos presbiterais e pastorais, cada pessoa e
grupo responsável na Igreja a porem em relevo a dimensão missionária nos
programas pastorais e formativos, sentindo que o próprio compromisso apostólico
não é completo, se não incluir o propósito de «dar também testemunho perante as
nações», perante todos os povos. Mas a missionariedade não é apenas uma
dimensão programática na vida cristã; é também uma dimensão paradigmática, que
diz respeito a todos os aspectos da vida cristã.
3.
Com frequência, os obstáculos à obra de evangelização encontram-se, não no
exterior, mas dentro da própria comunidade eclesial. Às vezes, estão relaxados
o fervor, a alegria, a coragem, a esperança de anunciar a todos a Mensagem de
Cristo e ajudar os homens do nosso tempo a encontrá-Lo. Por vezes há ainda quem
pense que levar a verdade do Evangelho seja uma violência à liberdade. A
propósito, são iluminantes estas palavras de Paulo VI: «Seria certamente um
erro impor qualquer coisa à consciência dos nossos irmãos. Mas propor a essa
consciência a verdade evangélica e a salvação em Jesus Cristo, com absoluta
clareza e com todo o respeito pelas opções livres que essa consciência fará
(...), é uma homenagem a essa liberdade» (Exort. ap. Evangelii nuntiandi, 80).
Devemos sempre ter a coragem e a alegria de propor, com respeito, o encontro
com Cristo e de nos fazermos portadores do seu Evangelho; Jesus veio ao nosso
meio para nos indicar o caminho da salvação e confiou, também a nós, a missão
de a fazer conhecer a todos, até aos confins do mundo. Com frequência, vemos
que a violência, a mentira, o erro é que são colocados em evidência e
propostos. É urgente fazer resplandecer, no nosso tempo, a vida boa do
Evangelho pelo anúncio e o testemunho, e isso dentro da Igreja. Porque, nesta
perspectiva, é importante não esquecer jamais um princípio fundamental para
todo o evangelizador: não se pode anunciar Cristo sem a Igreja. Evangelizar
nunca é um ato isolado, individual, privado, mas sempre eclesial. Paulo VI
escrevia que, «quando o mais obscuro dos pregadores, dos catequistas ou dos
pastores, no rincão mais remoto, prega o Evangelho, reúne a sua pequena
comunidade, ou administra um sacramento, mesmo sozinho, ele perfaz um ato de
Igreja». Ele não age «por uma missão pessoal que se atribuísse a si próprio, ou
por uma inspiração pessoal, mas em união com a missão da Igreja e em nome da
mesma» (ibid., 60). E isto dá força à missão e faz sentir a cada missionário e
evangelizador que nunca está sozinho, mas é parte de um único Corpo animado
pelo Espírito Santo.
4.
Na nossa época, a difusa mobilidade e a facilidade de comunicação através dos
novos mídias misturaram entre si os povos, os conhecimentos e as experiências.
Por motivos de trabalho, há famílias inteiras que se deslocam de um continente
para outro; os intercâmbios profissionais e culturais, assim como o turismo e
fenómenos análogos impelem a um amplo movimento de pessoas. Às vezes, resulta
difícil até mesmo para as comunidades paroquiais conhecer, de modo seguro e
profundo, quem está de passagem ou quem vive estavelmente no território. Além
disso, em áreas sempre mais amplas das regiões tradicionalmente cristãs, cresce
o número daqueles que vivem alheios à fé, indiferentes à dimensão religiosa ou
animados por outras crenças. Não raro, alguns batizados fazem opções de vida
que os afastam da fé, tornando-os assim carecidos de uma «nova evangelização».
A tudo isso se junta o facto de que larga parte da humanidade ainda não foi
atingida pela Boa Nova de Jesus Cristo. Ademais vivemos num momento de crise
que atinge vários setores da existência, e não apenas os da economia, das
finanças, da segurança alimentar, do meio ambiente, mas também os do sentido
profundo da vida e dos valores fundamentais que a animam. A própria convivência
humana está marcada por tensões e conflitos, que provocam insegurança e
dificultam o caminho para uma paz estável. Nesta complexa situação, onde o
horizonte do presente e do futuro parecem atravessados por nuvens ameaçadoras,
torna-se ainda mais urgente levar corajosamente a todas as realidades o
Evangelho de Cristo, que é anúncio de esperança, de reconciliação, de comunhão,
anúncio da proximidade de Deus, da sua misericórdia, da sua salvação, anúncio
de que a força de amor de Deus é capaz de vencer as trevas do mal e guiar pelo
caminho do bem. O homem do nosso tempo necessita de uma luz segura que ilumine
a sua estrada e que só o encontro com Cristo lhe pode dar. Com o nosso
testemunho de amor, levemos a este mundo a esperança que nos dá a fé! A
missionariedade da Igreja não é proselitismo, mas testemunho de vida que
ilumina o caminho, que traz esperança e amor. A Igreja – repito mais uma vez –
não é uma organização assistencial, uma empresa, uma ONG, mas uma comunidade de
pessoas, animadas pela ação do Espírito Santo, que viveram e vivem a maravilha
do encontro com Jesus Cristo e desejam partilhar esta experiência de profunda
alegria, partilhar a Mensagem de salvação que o Senhor nos trouxe. É justamente
o Espírito Santo que guia a Igreja neste caminho.
5.
Gostaria de encorajar a todos para que se façam portadores da Boa Nova de
Cristo e agradeço, de modo especial, aos missionários e às missionárias, aos
presbíteros fidei donum, aos religiosos e às religiosas, aos fiéis leigos –
cada vez mais numerosos – que, acolhendo a chamada do Senhor, deixaram a
própria pátria para servir o Evangelho em terras e culturas diferentes. Mas
queria também sublinhar como as próprias Igrejas jovens se estão empenhando
generosamente no envio de missionários às Igrejas que se encontram em
dificuldade – não raro Igrejas de antiga cristandade – levando assim o vigor e
o entusiasmo com que elas mesmas vivem a fé que renova a vida e dá esperança.
Viver com este fôlego universal, respondendo ao mandato de Jesus «ide, pois,
fazei discípulos de todos os povos» (Mt 28, 19), é uma riqueza para cada Igreja
particular, para cada comunidade; e dar missionários nunca é uma perda, mas um
ganho. Faço apelo, a todos aqueles que sentem esta chamada, para que
correspondam generosamente à voz do Espírito, segundo o próprio estado de vida,
e não tenham medo de ser generosos com o Senhor. Convido também os bispos, as
famílias religiosas, as comunidades e todas as agregações cristãs a apoiarem,
com perspicácia e cuidadoso discernimento, a vocação missionária ad gentes e a
ajudarem as Igrejas que precisam de sacerdotes, de religiosos e religiosas e de
leigos para revigorar a comunidade cristã. E a mesma atenção deveria estar
presente entre as Igrejas que fazem parte de uma Conferência Episcopal ou de
uma Região: é importante que as Igrejas mais ricas de vocações ajudem, com
generosidade, aquelas que padecem a sua escassez.
Ao
mesmo tempo exorto os missionários e as missionárias, especialmente os
presbíteros fidei donum e os leigos, a viverem com alegria o seu precioso
serviço nas Igrejas aonde foram enviados e a levarem a sua alegria e esperança
às Igrejas donde provêm, recordando como Paulo e Barnabé, no final da sua
primeira viagem missionária, «contaram tudo o que Deus fizera com eles e como
abrira aos pagãos a porta da fé» (Act 14, 27). Eles podem assim tornar-se
caminho para uma espécie de «restituição» da fé, levando o vigor das Igrejas
jovens às Igrejas de antiga cristandade a fim de que estas reencontrem o
entusiasmo e a alegria de partilhar a fé, numa permuta que é enriquecimento
recíproco no caminho de seguimento do Senhor.
A
solicitude por todas as Igrejas, que o Bispo de Roma partilha com os irmãos
Bispos, encontra uma importante aplicação no empenho das Obras Missionárias
Pontifícias, cuja finalidade é animar e aprofundar a consciência missionária de
cada batizado e de cada comunidade, seja apelando à necessidade de uma formação
missionária mais profunda de todo o Povo de Deus, seja alimentando a sensibilidade
das comunidades cristãs para darem a sua ajuda a favor da difusão do Evangelho
no mundo.
Por
fim, o meu pensamento vai para os cristãos que, em várias partes do mundo,
encontram dificuldade em professar abertamente a própria fé e ver reconhecido o
direito a vivê-la dignamente. São nossos irmãos e irmãs, testemunhas corajosas
– ainda mais numerosas do que os mártires nos primeiros séculos – que suportam
com perseverança apostólica as várias formas atuais de perseguição. Não poucos
arriscam a própria vida para permanecer fiéis ao Evangelho de Cristo. Desejo
assegurar que estou unido, pela oração, às pessoas, às famílias e às
comunidades que sofrem violência e intolerância, e repito-lhes as palavras
consoladoras de Jesus: «Tende confiança, Eu já venci o mundo» (Jo 16, 33).
Bento
XVI exortava: «Que "a Palavra do Senhor avance e seja glorificada" (2
Ts 3, 1)! Possa este Ano da Fé tornar cada vez mais firme a relação com Cristo
Senhor, dado que só n'Ele temos a certeza para olhar o futuro e a garantia dum
amor autêntico e duradouro» (Carta ap. Porta fidei, 15). Tais são os
meus votos para o Dia Mundial das Missões deste ano. Abençoo de todo o coração
os missionários e as missionárias e todos aqueles que acompanham e apoiam este
compromisso fundamental da Igreja para que o anúncio do Evangelho possa ressoar
em todos os cantos da terra e nós, ministros do Evangelho e missionários,
possamos experimentar «a suave e reconfortante alegria de evangelizar» (Paulo
VI, Exort. ap. Evangelii nuntiandi, 80).
Vaticano,
+FRANCISCO, Papa
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