“Assim diz o Senhor Deus, voltai para mim com todo o vosso coração;
rasgai o coração, e não as vestes; voltai para o Senhor, vosso Deus; Ele é
benigno, compassivo e cheio de misericórdia, inclinado a perdoar” (Joel
2,12-13). “Em nome de Cristo, nós vos suplicamos: deixai-vos reconciliar com
Deus” (2 Cor 5, 20).
Caríssimos Irmãos e Irmãs,
Preparamo-nos para percorrer o
caminho da Quaresma que nos conduzirá às solenes celebrações do mistério
central da fé: o mistério da paixão, morte e ressurreição de Cristo. A Quaresma
é o tempo favorável para o verdadeiro discipulado de Cristo e á busca de uma
vivencia autentica das obras penitenciais e ocasião providencial de conversão,
ajuda-nos a contemplar o supremo mistério do amor. Deus nos amou tanto que nos
deu o seu Filho amado para nos salvar (Jo 3, 16-18) e do amor infinito de Jesus
surge o seguimento a Ele: “Se quiseres me seguir tome a sua cruz e siga-me” (MT
8,34). A Quaresma constitui um retorno às raízes da fé, porque meditando sobre
o dom da Redenção, não podemos deixar de constatar que tudo nos foi dado por
iniciativa amorosa de Deus. Deus amou-nos com infinita misericórdia sem levar
em conta a condição de grave ruptura que o pecado causara na pessoa humana.
As práticas principais e
clássicas da Quaresma são a esmola, a oração e o jejum. Na palavra esmola está
incluído o nosso esforço de ajudar o nosso próximo em suas necessidades. Às
vezes precisamos dar um prato de comida, mas outras vezes precisamos ajudar as
pessoas que precisam de um ombro amigo, para chorar e desabafar, ou precisam de
uma orientação, ou de um simples sorriso. Através da esmola mostramos a Deus
que não somos apegados demasiadamente aos bens materiais - “quando deres
esmola, não toques a trombeta diante de ti, como fazem os hipócritas” (Mt 6,
1-4). A oração é um diálogo com Deus, no qual o escutamos e falamos com ele.
Deus nos fala principalmente quando lemos a Bíblia, de modo especial os
Evangelhos. Há muitas formas de oração: Participar da Santa Missa e dos demais
sacramentos, a reza do terço, a oração espontânea, a oração em família ou em
grupo. Jesus nos pediu: “Orai sempre e nunca cesseis de o fazer”(Lc 18,1).
“Vigiai e orai para não cairdes em tentação” (Mt 26,41). O ser humano é grande
quando fica ajoelhado diante de Deus e O adorando. Quem reza se salva e quem não reza se
condena! O jejum quaresmal nos ajuda a termos o domínio sobre nós mesmos, e não
nos deixarmos levar por qualquer desejo da nossa fragilidade humana. Tem gente
que facilmente cai no vício e até nas drogas, pois não aprendeu a ter domínio
de si. O ser humano precisa comer para viver, e não apenas viver só para comer!
O jejum nos ajuda também a entender a dura condição dos pobres, dos doentes e
de todos os que não têm possibilidade de comer o suficiente e de ter as condições
dignas para a sua existência.
A Quaresma representa para os
fiéis à ocasião propicia para uma profunda revisão de vida. No mundo
contemporâneo, junto a generosos testemunhos do Evangelho, não faltam batizados
que, adotam uma posição de indiferença e, às vezes, também de resistência. São
situações nas quais a experiência da oração se vive de maneira bastante
superficial, de modo que a palavra de Deus não incide sobre a existência.
Muitos consideram insignificante o Sacramento da Penitência e a celebração
eucarística do domingo. Precisamos redescobrir a urgência de confrontar-se com
a verdade do Evangelho e da Igreja. Devemos dar atenção especial às Confissões.
No Evangelho a cura do corpo é sinal da purificação mais profunda, que é
remissão dos pecados (Mc 2,1-12). Mediante o Sacramento da reconciliação, o Pai
nos concede em Cristo seu perdão e isto nos impulsiona a viver na caridade,
considerando o outro não como um inimigo, e sim como um irmão. O perdão e a
reconciliação sacramental são imprescindíveis para levar a cabo uma real
renovação pessoal e social. Isto vale nas relações interpessoais, mas também
nas relações entre as comunidades. O amor de Deus encontra sua mais alta
expressão quando o homem, pecador e ingrato, é readmitido a plena comunhão com
Deus, com os outros e consigo mesmo. Por isso, devemos criar na paróquia
momentos para que as pessoas se sintam motivadas e tenha a oportunidade de se
confessarem com o padre.
A quaresma é o tempo privilegiado
para a prática da caridade fraterna. A Quaresma é o tempo propício para a
missão, para a evangelização! Por isso com a celebração da Quaresma inicia-se a
Campanha da Fraternidade. Todos os anos durante o período quaresmal a CNBB
(Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) realiza a Campanha da Fraternidade,
que tem por objetivo despertar a solidariedade de seus fiéis e de toda a
sociedade em relação a um problema concreto que envolve toda a nação, buscando
uma solução para o mesmo. Para o ano de 2012, a CNBB sugeriu o tema
"Fraternidade e Saúde Pública" e o lema "Que a saúde se difunda
sobre a terra!" (Cf. Eclo, 38,8). A Campanha da Fraternidade deste ano nos
leva a um compromisso com a vida em sua totalidade conforme as palavras de
Jesus: “Eu vim para que todos tenham vida e a tenha em abundancia” (Jo 10,10).
Observamos muitos avanços no campo da medicina, mas infelizmente todo o sistema
da saúde é ainda precário: Morre-se antes de nascer e se morre antes de morrer!
O Objetivo Geral da Campanha da Fraternidade de 2012 é: "Refletir sobre a
realidade da saúde no Brasil em vista de uma vida saudável, suscitando o
espírito fraterno e comunitário das pessoas na atenção dos enfermos e mobilizar
por melhoria no sistema público de saúde" (p. 12 do Texto-Base). A
Campanha da Fraternidade não deve ser refletida somente no tempo da quaresma,
ela deve se estender em nossas práticas diárias o ano todo e pelo resto de
nossas vidas. Além do Objetivo Geral a Campanha da Fraternidade para 2012
apresenta seis objetivos específicos. Estes são: "1.) Disseminar o conceito
de bem viver e a prática de hábitos de vida saudável; 2) Sensibilizar as
pessoas para o serviço aos enfermos, o suprimento de suas necessidades e a
integração na comunidade; 3) Alertar para a importância da organização da
Pastoral da Saúde nas comunidades: criar onde não existe, fortalecer onde está
incipiente e dinamizá-la onde ela já existe; 4) Difundir dados sobre a
realidade da saúde no Brasil e seus desafios, como sua estreita relação com os
aspectos sócio-culturais de nossa sociedade; 5) Despertar nas comunidades a
discussão sobre a realidade da saúde pública, visando à defesa do SUS e a
reivindicação do seu justo financiamento; e 6) Qualificar a comunidade para
acompanhar as ações da gestão pública e exigir a aplicação dos recursos
públicos com transparência, especialmente na saúde" (cf. p. 12 do
Texto-Base da CF).
O Estado tem que melhorar o seu
atendimento aos cidadãos e não entregar a questão da saúde na iniciativa
privada. Saúde é direito constitucional de cada brasileiro. Precisa investir
mais no saneamento básico, no atendimento melhor do SUS, na prevenção.
Precisamos, nas nossas paróquias, assumir as iniciativas concretas: visita aos
doentes nas famílias e nos hospitais, fundar a Pastoral da Saúde onde ainda não
existe e reforçar onde já funciona. “A fé sem obras é morta” (Tg 2,26). Devemos
lembrar ainda que esta Campanha deve nos ajudar a sermos mais solidários com os
outros, assumindo a atitude do Bom Samaritano que ver, se aproxima e se
compadece, cura, coloca no seu próprio animal, leva para a hospedaria e cuida
daquele que estava caído ao chão, sofrido e enfermo. Pois, o Bom Samaritano é
todo aquele homem ou mulher que se detém junto ao sofrimento de seu semelhante,
seja qual for o seu sofrimento. Sensível ao sofrimento de outrem, sendo presença-serviço
na vida daquele que sofre e clama por cuidados, solidariedade e compaixão.
Motivar os grupos e pastorais a mobilizarem o povo para momentos juntos de
reflexão, oração, penitência, celebrações, retiros espirituais, visitas e
acompanhamento às pessoas que se encontram doentes e necessitando de alguma
assistência tanto na cidade quanto na zona rural, gerando um compromisso
cristão e social. Neste período é importante também dar atenção especial ao
Sacramento da Unção dos Enfermos que é ápice em favor e ao serviço dos irmãos
enfermos da comunidade, comprometendo a todos na vida da Igreja. Precisamos nas
visitas aos enfermos enfatizar a figura de Maria, Mãe das dores e dos aflitos,
Senhora da saúde e dos enfermos, aquela que sempre demonstrou especial
solicitude para com os sofredores.
A abertura da Campanha da
Fraternidade não pode resumi-se apenas à missa da Quarta-feira de Cinzas, mas
deve ser um momento para chamar a atenção e convidar a sociedade para uma boa e
saudável reflexão em relação a este assunto, através da mídia local (radio, TV,
vozes, e carros de propaganda volante). Para isso é importante que nossos
agentes estejam preparados, e tenham feito estudos sobre o assunto que envolve
a temática da Campanha. Seria propicio convidar as entidades e organismos da
sociedade para um seminário ou debate sobre o tema da saúde no município.
Poderiam também ser realizadas palestras nas escolas da rede publica e também
nas Universidades presentes em algumas localidades.
Sabemos que em nossas cidades já
funcionam os Conselhos Municipais de Saúde, nos quais nossas paróquias já estão
envolvidas; certamente, a partir desta iniciativa já haverá um caminho a ser
traçado para o futuro da Pastoral da Saúde.
Na Campanha da Fraternidade o
gesto concreto se revela na Coleta da Solidariedade, realizada no Domingo de
Ramos, por isso a mesma deve receber uma motivação mais plausível como fruto de
reflexão, jejum, abstinência e solidariedade vivenciada neste tempo quaresmal.
Todos sabem que 60% do arrecadado fica no fundo diocesano de solidariedade e
40% é encaminhado para o fundo nacional e que pode retornar um dia para as
paróquias através de seus projetos. Basta para tanto formar uma equipe que
possa se responsabilizar por isso.
Temos muito trabalho pela frente e
contamos com cada um de vocês! Quero lembrar que em 2012 teremos eleições
municipais em todo o país, portanto a saúde se tornará ponto de discussão
obrigatória para todos os candidatos e as nossas comunidades.
Agradeço a todos quantos -
sacerdotes, religiosos/as, numerosos leigos – que prestam nos quatro cantos da
Prelazia de Coari (AM) o testemunho de fé e de caridade. O mundo espera dos
cristãos, de nós católicos, um testemunho coerente de comunhão e de
solidariedade.
Jesus Ressuscitado disse:
"Eu estarei convosco até ao fim do mundo" (Mt 28, 16-20). Estas
palavras de Jesus asseguram-nos que não estamos sozinhos ao anunciar e viver o
evangelho da caridade. Também nesta Quaresma do ano 2012, Ele nos convida a
voltar para o Pai, que nos espera de braços abertos, para nos transformar em
sinais vivos e eficazes do seu amor misericordioso na construção do mundo mais
justo, mas fraterno e mais humano.
Que Maria, Mãe da Igreja e Mãe do
Belo Amor e da Esperança, seja guia e apoio neste nosso itinerário quaresmal na
Prelazia de Coari (AM). A todos incluo com afeto na minha oração, enquanto de
bom grado concedo a cada um uma especial benção episcopal.
Coari - AM, 16 de fevereiro de
2012
+ Marcos Piatek,
CSsR
Bispo da Prelazia de Coari (AM)
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