EVANGELIZAR NO CORAÇÃO DO ESTADO DO AMAZONAS:
"Sou missionário, sou Povo de Deus; sou índio, caboclo mestiço, fazendo da vida a missão. Aqui nesta grande tapera da Igreja Amazônica sou mensageiro de um Deus que é irmão... Somos filhos da Igreja do Norte, missionários desta região. Formamos a comunidade nesta geografia que temos nas mãos. Aprendemos a ouvir a mensagem de um Deus que nos fala na brisa, nas águas, nas flores, no chão... Jesus Cristo nosso guia, anima o nosso caminhar; nos aponta o caminho certo e de braços abertos vem nos ensinar" (Manoel Neris, Manacapuru, Prelazia de Coari-AM)

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

A MENSAGEM DO BISPO DA PRELAZIA DE COARI (AM) PARA A QUARESMA E A CAMPANHA DA FRATENIDADE DE 2012


“Assim diz o Senhor Deus, voltai para mim com todo o vosso coração; rasgai o coração, e não as vestes; voltai para o Senhor, vosso Deus; Ele é benigno, compassivo e cheio de misericórdia, inclinado a perdoar” (Joel 2,12-13). “Em nome de Cristo, nós vos suplicamos: deixai-vos reconciliar com Deus” (2 Cor 5, 20).

Caríssimos Irmãos e Irmãs,

Preparamo-nos para percorrer o caminho da Quaresma que nos conduzirá às solenes celebrações do mistério central da fé: o mistério da paixão, morte e ressurreição de Cristo. A Quaresma é o tempo favorável para o verdadeiro discipulado de Cristo e á busca de uma vivencia autentica das obras penitenciais e ocasião providencial de conversão, ajuda-nos a contemplar o supremo mistério do amor. Deus nos amou tanto que nos deu o seu Filho amado para nos salvar (Jo 3, 16-18) e do amor infinito de Jesus surge o seguimento a Ele: “Se quiseres me seguir tome a sua cruz e siga-me” (MT 8,34). A Quaresma constitui um retorno às raízes da fé, porque meditando sobre o dom da Redenção, não podemos deixar de constatar que tudo nos foi dado por iniciativa amorosa de Deus. Deus amou-nos com infinita misericórdia sem levar em conta a condição de grave ruptura que o pecado causara na pessoa humana.

As práticas principais e clássicas da Quaresma são a esmola, a oração e o jejum. Na palavra esmola está incluído o nosso esforço de ajudar o nosso próximo em suas necessidades. Às vezes precisamos dar um prato de comida, mas outras vezes precisamos ajudar as pessoas que precisam de um ombro amigo, para chorar e desabafar, ou precisam de uma orientação, ou de um simples sorriso. Através da esmola mostramos a Deus que não somos apegados demasiadamente aos bens materiais - “quando deres esmola, não toques a trombeta diante de ti, como fazem os hipócritas” (Mt 6, 1-4). A oração é um diálogo com Deus, no qual o escutamos e falamos com ele. Deus nos fala principalmente quando lemos a Bíblia, de modo especial os Evangelhos. Há muitas formas de oração: Participar da Santa Missa e dos demais sacramentos, a reza do terço, a oração espontânea, a oração em família ou em grupo. Jesus nos pediu: “Orai sempre e nunca cesseis de o fazer”(Lc 18,1). “Vigiai e orai para não cairdes em tentação” (Mt 26,41). O ser humano é grande quando fica ajoelhado diante de Deus e O adorando.  Quem reza se salva e quem não reza se condena! O jejum quaresmal nos ajuda a termos o domínio sobre nós mesmos, e não nos deixarmos levar por qualquer desejo da nossa fragilidade humana. Tem gente que facilmente cai no vício e até nas drogas, pois não aprendeu a ter domínio de si. O ser humano precisa comer para viver, e não apenas viver só para comer! O jejum nos ajuda também a entender a dura condição dos pobres, dos doentes e de todos os que não têm possibilidade de comer o suficiente e de ter as condições dignas para a sua existência.

A Quaresma representa para os fiéis à ocasião propicia para uma profunda revisão de vida. No mundo contemporâneo, junto a generosos testemunhos do Evangelho, não faltam batizados que, adotam uma posição de indiferença e, às vezes, também de resistência. São situações nas quais a experiência da oração se vive de maneira bastante superficial, de modo que a palavra de Deus não incide sobre a existência. Muitos consideram insignificante o Sacramento da Penitência e a celebração eucarística do domingo. Precisamos redescobrir a urgência de confrontar-se com a verdade do Evangelho e da Igreja. Devemos dar atenção especial às Confissões. No Evangelho a cura do corpo é sinal da purificação mais profunda, que é remissão dos pecados (Mc 2,1-12). Mediante o Sacramento da reconciliação, o Pai nos concede em Cristo seu perdão e isto nos impulsiona a viver na caridade, considerando o outro não como um inimigo, e sim como um irmão. O perdão e a reconciliação sacramental são imprescindíveis para levar a cabo uma real renovação pessoal e social. Isto vale nas relações interpessoais, mas também nas relações entre as comunidades. O amor de Deus encontra sua mais alta expressão quando o homem, pecador e ingrato, é readmitido a plena comunhão com Deus, com os outros e consigo mesmo. Por isso, devemos criar na paróquia momentos para que as pessoas se sintam motivadas e tenha a oportunidade de se confessarem com o padre.

A quaresma é o tempo privilegiado para a prática da caridade fraterna. A Quaresma é o tempo propício para a missão, para a evangelização! Por isso com a celebração da Quaresma inicia-se a Campanha da Fraternidade. Todos os anos durante o período quaresmal a CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) realiza a Campanha da Fraternidade, que tem por objetivo despertar a solidariedade de seus fiéis e de toda a sociedade em relação a um problema concreto que envolve toda a nação, buscando uma solução para o mesmo. Para o ano de 2012, a CNBB sugeriu o tema "Fraternidade e Saúde Pública" e o lema "Que a saúde se difunda sobre a terra!" (Cf. Eclo, 38,8). A Campanha da Fraternidade deste ano nos leva a um compromisso com a vida em sua totalidade conforme as palavras de Jesus: “Eu vim para que todos tenham vida e a tenha em abundancia” (Jo 10,10). Observamos muitos avanços no campo da medicina, mas infelizmente todo o sistema da saúde é ainda precário: Morre-se antes de nascer e se morre antes de morrer! O Objetivo Geral da Campanha da Fraternidade de 2012 é: "Refletir sobre a realidade da saúde no Brasil em vista de uma vida saudável, suscitando o espírito fraterno e comunitário das pessoas na atenção dos enfermos e mobilizar por melhoria no sistema público de saúde" (p. 12 do Texto-Base). A Campanha da Fraternidade não deve ser refletida somente no tempo da quaresma, ela deve se estender em nossas práticas diárias o ano todo e pelo resto de nossas vidas. Além do Objetivo Geral a Campanha da Fraternidade para 2012 apresenta seis objetivos específicos. Estes são: "1.) Disseminar o conceito de bem viver e a prática de hábitos de vida saudável; 2) Sensibilizar as pessoas para o serviço aos enfermos, o suprimento de suas necessidades e a integração na comunidade; 3) Alertar para a importância da organização da Pastoral da Saúde nas comunidades: criar onde não existe, fortalecer onde está incipiente e dinamizá-la onde ela já existe; 4) Difundir dados sobre a realidade da saúde no Brasil e seus desafios, como sua estreita relação com os aspectos sócio-culturais de nossa sociedade; 5) Despertar nas comunidades a discussão sobre a realidade da saúde pública, visando à defesa do SUS e a reivindicação do seu justo financiamento; e 6) Qualificar a comunidade para acompanhar as ações da gestão pública e exigir a aplicação dos recursos públicos com transparência, especialmente na saúde" (cf. p. 12 do Texto-Base da CF).

O Estado tem que melhorar o seu atendimento aos cidadãos e não entregar a questão da saúde na iniciativa privada. Saúde é direito constitucional de cada brasileiro. Precisa investir mais no saneamento básico, no atendimento melhor do SUS, na prevenção. Precisamos, nas nossas paróquias, assumir as iniciativas concretas: visita aos doentes nas famílias e nos hospitais, fundar a Pastoral da Saúde onde ainda não existe e reforçar onde já funciona. “A fé sem obras é morta” (Tg 2,26). Devemos lembrar ainda que esta Campanha deve nos ajudar a sermos mais solidários com os outros, assumindo a atitude do Bom Samaritano que ver, se aproxima e se compadece, cura, coloca no seu próprio animal, leva para a hospedaria e cuida daquele que estava caído ao chão, sofrido e enfermo. Pois, o Bom Samaritano é todo aquele homem ou mulher que se detém junto ao sofrimento de seu semelhante, seja qual for o seu sofrimento. Sensível ao sofrimento de outrem, sendo presença-serviço na vida daquele que sofre e clama por cuidados, solidariedade e compaixão. Motivar os grupos e pastorais a mobilizarem o povo para momentos juntos de reflexão, oração, penitência, celebrações, retiros espirituais, visitas e acompanhamento às pessoas que se encontram doentes e necessitando de alguma assistência tanto na cidade quanto na zona rural, gerando um compromisso cristão e social. Neste período é importante também dar atenção especial ao Sacramento da Unção dos Enfermos que é ápice em favor e ao serviço dos irmãos enfermos da comunidade, comprometendo a todos na vida da Igreja. Precisamos nas visitas aos enfermos enfatizar a figura de Maria, Mãe das dores e dos aflitos, Senhora da saúde e dos enfermos, aquela que sempre demonstrou especial solicitude para com os sofredores.

A abertura da Campanha da Fraternidade não pode resumi-se apenas à missa da Quarta-feira de Cinzas, mas deve ser um momento para chamar a atenção e convidar a sociedade para uma boa e saudável reflexão em relação a este assunto, através da mídia local (radio, TV, vozes, e carros de propaganda volante). Para isso é importante que nossos agentes estejam preparados, e tenham feito estudos sobre o assunto que envolve a temática da Campanha. Seria propicio convidar as entidades e organismos da sociedade para um seminário ou debate sobre o tema da saúde no município. Poderiam também ser realizadas palestras nas escolas da rede publica e também nas Universidades presentes em algumas localidades.
Sabemos que em nossas cidades já funcionam os Conselhos Municipais de Saúde, nos quais nossas paróquias já estão envolvidas; certamente, a partir desta iniciativa já haverá um caminho a ser traçado para o futuro da Pastoral da Saúde.

Na Campanha da Fraternidade o gesto concreto se revela na Coleta da Solidariedade, realizada no Domingo de Ramos, por isso a mesma deve receber uma motivação mais plausível como fruto de reflexão, jejum, abstinência e solidariedade vivenciada neste tempo quaresmal. Todos sabem que 60% do arrecadado fica no fundo diocesano de solidariedade e 40% é encaminhado para o fundo nacional e que pode retornar um dia para as paróquias através de seus projetos. Basta para tanto formar uma equipe que possa se responsabilizar por isso. 

Temos muito trabalho pela frente e contamos com cada um de vocês! Quero lembrar que em 2012 teremos eleições municipais em todo o país, portanto a saúde se tornará ponto de discussão obrigatória para todos os candidatos e as nossas comunidades.

Agradeço a todos quantos - sacerdotes, religiosos/as, numerosos leigos – que prestam nos quatro cantos da Prelazia de Coari (AM) o testemunho de fé e de caridade. O mundo espera dos cristãos, de nós católicos, um testemunho coerente de comunhão e de solidariedade.

Jesus Ressuscitado disse: "Eu estarei convosco até ao fim do mundo" (Mt 28, 16-20). Estas palavras de Jesus asseguram-nos que não estamos sozinhos ao anunciar e viver o evangelho da caridade. Também nesta Quaresma do ano 2012, Ele nos convida a voltar para o Pai, que nos espera de braços abertos, para nos transformar em sinais vivos e eficazes do seu amor misericordioso na construção do mundo mais justo, mas fraterno e mais humano.

Que Maria, Mãe da Igreja e Mãe do Belo Amor e da Esperança, seja guia e apoio neste nosso itinerário quaresmal na Prelazia de Coari (AM). A todos incluo com afeto na minha oração, enquanto de bom grado concedo a cada um uma especial benção episcopal.

Coari - AM, 16 de fevereiro de 2012
+ Marcos Piatek, CSsR
                                                          Bispo da Prelazia de Coari (AM)

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