O tempo na Cidade Maravilhosa melhorou. A cidade está repleta de jovens do mundo inteiro. O Papa Francisco participou da Via Sacra, em
Copacabana, na noite da sexta-feira, 26 de Junho de 2013. Confira na íntegra o discurso do Papa Francisco:
Queridos jovens,
Viemos hoje acompanhar Jesus no seu caminho de dor
e de amor, o caminho da Cruz, que é um dos momentos fortes da Jornada Mundial
da Juventude. No final do Ano Santo da Redenção, o Bem-aventurado João Paulo II
quis confiá-la a vocês, jovens, dizendo-lhes: «Levai-a pelo mundo, como sinal
do amor de Jesus pela humanidade e anunciai a todos que só em Cristo morto e
ressuscitado há salvação e redenção» (Palavras aos jovens [22 de abril de
1984]: Insegnamenti VII,1 (1984), 1105). A partir de então a Cruz percorreu
todos os continentes e atravessou os mais variados mundos da existência humana,
ficando quase que impregnada com as situações de vida de tantos jovens que a
viram e carregaram.
Ninguém pode tocar a Cruz de Jesus sem deixar algo
de si mesmo nela e sem trazer algo da Cruz de Jesus para sua própria vida. Esta
tarde, acompanhando o Senhor, queria que ressoassem três perguntas nos seus
corações: O que vocês terão deixado na Cruz, queridos jovens brasileiros,
nestes dois anos em que ela atravessou seu imenso País? E o que terá deixado a
Cruz de Jesus em cada um de vocês? E, finalmente, o que esta Cruz ensina para a
nossa vida?
1. Uma antiga tradição da Igreja de Roma conta que
o Apóstolo Pedro, saindo da cidade para fugir da perseguição do Imperador Nero,
viu que Jesus caminhava na direção oposta e, admirado, lhe perguntou: «Para
onde vais, Senhor?». E a resposta de Jesus foi: «Vou a Roma para ser
crucificado outra vez». Naquele momento, Pedro entendeu que devia seguir o
Senhor com coragem até o fim, mas entendeu sobretudo que nunca estava sozinho
no caminho; com ele, sempre estava aquele Jesus que o amara até o ponto de
morrer na Cruz. Pois bem, Jesus com a sua cruz atravessa os nossos caminhos
para carregar os nossos medos, os nossos problemas, os nossos sofrimentos,
mesmo os mais profundos. Com a Cruz, Jesus se une ao silêncio das vítimas da
violência, que já não podem clamar, sobretudo os inocentes e indefesos; nela
Jesus se une às famílias que passam por dificuldades, que choram a perda de
seus filhos, ou que sofrem vendo-os presas de paraísos artificiais como a
droga; nela Jesus se une a todas as pessoas que passam fome, num mundo que
todos os dias joga fora toneladas de comida; nela Jesus se une a quem é
perseguido pela religião, pelas ideias, ou simplesmente pela cor da pele; nela
Jesus se une a tantos jovens que perderam a confiança nas instituições
políticas, por verem egoísmo e corrupção, ou que perderam a fé na Igreja, e até
mesmo em Deus, pela incoerência de cristãos e de ministros do Evangelho. Na
Cruz de Cristo, está o sofrimento, o pecado do homem, o nosso também, e Ele
acolhe tudo com seus braços abertos, carrega nas suas costas as nossas cruzes e
nos diz: Coragem! Você não está sozinho a levá-la! Eu a levo com você. Eu venci
a morte e vim para lhe dar esperança, dar-lhe vida (cf. Jo 3,16).
2. E assim podemos responder à segunda pregunta: o
que foi que a Cruz deixou naqueles que a viram, naqueles que a tocaram? O que
deixa em cada um de nós? Deixa um bem que ninguém mais pode nos dar: a certeza
do amor inabalável de Deus por nós. Um amor tão grande que entra no nosso
pecado e o perdoa, entra no nosso sofrimento e nos dá a força para poder
levá-lo, entra também na morte para derrotá-la e nos salvar. Na Cruz de Cristo,
está todo o amor de Deus, a sua imensa misericórdia. E este é um amor em que
podemos confiar, em que podemos crer. Queridos jovens, confiemos em Jesus,
abandonemo-nos totalmente a Ele (cf. Carta enc. Lumen fidei, 16)! Só em Cristo
morto e ressuscitado encontramos salvação e redenção. Com Ele, o mal, o
sofrimento e a morte não têm a última palavra, porque Ele nos dá a esperança e
a vida: transformou a Cruz, de instrumento de ódio, de derrota, de morte, em
sinal de amor, de vitória e de vida. O primeiro nome dado ao Brasil foi
justamente o de «Terra de Santa Cruz». A Cruz de Cristo foi plantada não só na
praia, há mais de cinco séculos, mas também na história, no coração e na vida
do povo brasileiro e não só: o Cristo sofredor, sentimo-lo próximo, como um de
nós que compartilha o nosso caminho até o final. Não há cruz, pequena ou
grande, da nossa vida que o Senhor não venha compartilhar conosco.
3. Mas a Cruz de Cristo também nos convida a
deixar-nos contagiar por este amor; ensina-nos, pois, a olhar sempre para o
outro com misericórdia e amor, sobretudo quem sofre, quem tem necessidade de
ajuda, quem espera uma palavra, um gesto; ensina-nos a sair de nós mesmos para
ir ao encontro destas pessoas e lhes estender a mão. Tantos rostos acompanharam
Jesus no seu caminho até a Cruz: Pilatos, o Cireneu, Maria, as mulheres...
Também nós diante dos demais podemos ser como Pilatos que não teve a coragem de
ir contra a corrente para salvar a vida de Jesus, lavando-se as mãos. Queridos
amigos, a Cruz de Cristo nos ensina a ser como o Cireneu, que ajuda Jesus levar
aquele madeiro pesado, como Maria e as outras mulheres, que não tiveram medo de
acompanhar Jesus até o final, com amor, com ternura. E você como é? Como
Pilatos, como o Cireneu, como Maria?
Queridos jovens, levamos as nossas alegrias, os
nossos sofrimentos, os nossos fracassos para a Cruz de Cristo; encontraremos um
Coração aberto que nos compreende, perdoa, ama e pede para levar este mesmo
amor para a nossa vida, para amar cada irmão e irmã com este mesmo amor. Assim
seja!
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